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Os Nòví Nukundeji do Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe

por Mavó Adelson

Na nossa Bahia, no bairro negro da Liberdade, tem a Rua do Curuzú onde temos um patrimonio da Cultura Ewe-Fon-Iorubá-Nagô: O Humkpame Savalú Vodun Zo Kwe, ou popularmente, Terreiro Vodun Zo. É nesta rua desse bairro da Liberdade, em Salvador, que Amilton Sacramento Costa, ou Doté (Qualidade Superior de um dileto filho de Sogbo) Amilton de Sobô (Sogbo em Língua Fón) segue na luta pela preservação da tradição do Jeje Savaluno. É na condição de Doté, à frente do Kwe Vodun Zo (Templo do Vodun/Espírito do Fogo) que esse descendente espiritual da Cacunda de Yayá (onde teve o seu nascimento para zelar do Panteão Savaluno, pelas mãos de Jaoci Mãe Tança de Nanã), segue na referida luta. No cerne da noss prática enquanto Templo dedicado ao Deus do Fogo (do fogo essencialmente associado ao raio) estão os Voduns Kavionos, que são aqueles Voduns agrupados no Panteão do trovão.

Na leitura feita pelo Adivinho (em Fón, o Bakono), aparecem as instruções sobre a inclusão (ou não) nesse Panteão, de alguns voduns que vivem nos mares e oceanos (tò-voduns) nas práticas ritualísticas diárias das semanas do ano, conforme a conveniencia e a proprieadade das homenagens, ciencia revelada pelo Jogo (Adivinhação) por sua estreita ligação com os sò-voduns. Os voduns do raio, em especial o vodun Sògbó, mantém  muitas semelhanças com o orixá yorubá Xangô. Por essa semelhança na quarta-feira, em caratér votivo, é feito uma “Cerimonia votiva do Feví (ou na língua Nagô usada no Quêto, o  Amalá de Xangô)” no nosso Templo.

No Jeje, não há quaquer espécie de ostentação. Não há pressa nem urgência. O método didatico é o da atenção ao que se fala, ao que se faz, assim como ao silencio e ao que se deixa de fazer. Os jovens são educados tomando como parâmetro, uma hierarquia baseada no Senioridade. Todos os diálogos entre pessoas de gerações distintas, são momentos de ensino-aprendizagem. A simples suspeição por parte dos mais velhos de que os atentos jovens estão adiantando o relógio natural do tempo africano, pode levar a interrupção do processo. O mais velho cisma e suspende unilteralmente o processo de transmissão do ensinamento. No caso das mulheres, a didática é bem diferente. Não é costume ver as mulheres sentadas em torno de alguém. As mulheres no nosso Templo ensinam e aprendem fazendo e assim se mantém quase perenemente em movimento. Submetidas que são a uma série de restrições, as mulheres no nosso Hunkpáme, assim como em todas as sociedades africanas, em função das restrições aludidas,se tornam Sábias, Guerreiras e Vitoriosas. Além de geradoras das novas comunidades, as mulheres são as agentes naturais da manutenção da vida, por sua Sabedoria e o Mistério da Vida que carregam em seus ventres. São elas as inspiradoras da Amizade. É através delas que amigos e amigas do Hunkpame, desempenham papel de fundamental importância para o sucesso dos trabalhos, por exemplo, de manutenção e limpeza das dependências do Hunkpame, e, assim se constituem parte essencial da construção da Sabedoria do Templo. 

No Jeje Savalú, são usadas as línguas Fón, Ewe, e Iorubá, entretanto o Fón (Fóngbè)  é a língua emblemática do Jeje-Savalú, pois era a língua ofical do (antigo) Reino do Daomé (cujas monarquias organizaram as religiões que compõem a tradição Jeje). O Fón  é ainda hoje falada por uma boa parte da população do Benin, principalmente na capital do País, Cotonu. 

Para os Fón, o amigo, o irmão, o primo são uma coisa só. Não há uma palavra que diferencie esses status. Na língua Fón, a palavra  ‘Amigo’, se traduz com  Nɔ̀ví (não estranhem, por favor, a letra «ɔ̀ » ela é quase o nosso ‘ó’, ou seja ‘o’ (ó) com acento agudo). A etimologia da palavra mostra a seguinte construção: Nɔ̀ví = Nɔ̀ + ví, onde, o prefixo Nɔ̀ = Mãe, Prógenitora enquanto o sufixo ví = criança, filho, filha. Então Nɔ̀ví significa filho, filha da mesma Mãe, ou seja, Irmão, Irmã. Quanto ao adjetivo Nukúndèjí  tem-se a seguinte etimologia: Nukún + ɖéjí onde a palavra Nukún significa semente, grão, FUNDAMENTO, enquanto a palavra Dèjí significa elevação, subida, elevado, etc., que vem a ser traduzido mais expressamente como: Importante, illustre, etc. Para finalizar, é preciso reconhecer que sendo a lingua portuguesa uma forma de comunicação objetiva, deixa a desejar quando a tarefa é a traudção de textos das linguas africans que são formas de comunicação altamente espiritualizadas e expressamente contextuais. 

 

Sou o Mavó Adelson

Professor Adelson Silva de Brito,

Mawo Ayivodunó Nanavodunnó Sogbovi Hunkpame Savalú Vodun Zo Xwe,

 

 

Etimologia dos termos nos títulos Nɔ̀ví Nukúndèjí e Mɛjitɔ́ Adɛ̆n

 

Nɔ̀ví = Nɔ̀ + ví

Nɔ̀ = filho, que tem a mesma mãe, a mesma origem vital e biológica, etc. :

+

Ví = criança, filho, filha,etc. :

 

Para os fón, o amigo, o irmão, o primo são uma coisa só. Não há uma palavra que diferencie eses status.

Nukúndèjí  = Nukúnɖéjí =  Importante, illustre

Nukún = semente, grão, fundamento

Dèjí = elevação, subida, etc.: 

Por exemplo, a palavra Dèjí(yí)kàn, significa « corda usada para subir nas palmeiras », enquanto a palavra Dèjíyítɔ́, significa « aquele que sobe na palmeira ». Daí a palavra Nɔ̀ví Nukúndèjí, significa literalmente: O filho (que tem fundamento) elevado.

Aí em Português, obedecendo um costume fundamental do Jeje, a tradução não replica ao pé da letra o significa, por isso fica:  “Amigo Emérito”  do Hunkpame Savalú Vodun Zo Kwe, ao Excelentíssimo Professor Dr. Ordep José ou seja,  “Amigo Emérito” do Hunkpame Savalú Vodun Zo Kwe, ao Excelentíssimo Professor Dr. Ordep José Trindade Serra, pela sua notória competência e desvelo na proteção do Sagrado Africano-Brasileiro, Nukúnɖéjí : Importante, illustre. 

Quanto ao título de Mɛjitɔ́ Adɛ̆n. A palavra Mɛjitɔ́ significa, Pai ou Mãe, no sentido mais usado nas comunicações Inglêsa e Francesa, pois é o « parent ». Assim, em Português, quando usamos a palavra « pais », não oservamos um significado no singular (« pai »), que também se aplique a « mãe ». É aí que a palavra, não teria um significado em Português que contemplasse extamente a sua aplicação em fón. Título é Sacerdotal, e significa Sacerdotisa de Adaen.

Terreiro Vodun Zo presta homenagens ao Professor Ordep Serra e a Sra. Gersonice Brandão.

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