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Terreiro Vodun Zo Kwe é tombado pelo município

por Yuri Pastori

O Rio nasça onde nascer, todo ele vai para o mar, somos todos iguais", esta foi a frase com que o sacerdote Doté Amilton  marcou, nesta sexta-feira, 15,  a cerimônia de tombamento do Terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, no Curuzu, bairro da Liberdade.

"O tombamento visa preservar não só o espaço físico, mas também todo o legado cultural e a tradição, e aqui também tem a questão ecológica", disse o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro.

O terreiro, localizado na rua Direita do Curuzu, é conhecido como mancha verde, pois a região possui a única área verde preservada do bairro com  maior população  negra da cidade.

Durante a cerimônia, Doté Amilton destacou os 30 anos de projetos sociais desenvolvidos no local, com  o ensino de capoeira para crianças da comunidade.

"Muitas crianças carentes  cresceram e foram para a Europa e levaram o que aprenderam aqui", disse,  emocionado com o reconhecimento do trabalho que tira jovens de situação de risco. O sacerdote renunciou à própria residência para montar uma biblioteca.

O ato desta sexta representou a primeira ação municipal da capital com base na Lei de Preservação do Patrimônio Cultural do Município (8.550/2014), de autoria do vereador Léo Prates (DEM). A ação foi executada pelo setor de patrimônio do município, criado neste ano, sob a responsabilidade da Fundação Gregório de Mattos (FGM).

"Essa lei chegou com muito atraso para uma cidade com imenso patrimônio histórico. Os tombamentos são feitos a partir da demanda da sociedade civil. Não é uma escolha da fundação, eles nos procuram e fazem a solicitação. Uma comissão de técnicos avalia. Já temos uma lista grande que inclui, por exemplo, a pedra de Xangô, em Cajazeiras. Mas, até agora, o Vodun Zo foi o único terreiro que fez o pedido para tombamento na cidade de Salvador", explicou o gestor da FGM.

"É um ato de reconhecimento da ancestralidade, da cultura e religião africana, que fazem parte da formação do nosso ser. A religião e a fé de cada um têm que ser respeitadas", disse o prefeito ACM Neto, que assinou a certidão oficial de tombamento e prometeu uma creche-escola para o local, reivindicada pelo terreiro.

O encerramento do ato contou com performance da Banda Aiyê, do bloco afro Ilê Aiyê.

Raridade

De 12 mil m² de área, restaram  ao terreiro apenas 2 mil m². Ao longo de 40 anos em  que o sacerdote está no local, houve invasões com derrubada de árvores, depredação da fonte, problemas com especulação imobiliária e dificuldade de manutenção das instalações - motivos que foram elencados no ofício para formalizar o pedido de tombamento protocolado e documentado pela Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA).

"Temos aqui uma raridade de culto, que não há em nenhum outro local. Tínhamos que tomar alguma atitude drástica para proteger esse espaço vivo de memória", pontuou Leonel Monteiro, presidente da AFA.

Como único da nação Jeje Savalu, o Vodun Zo  preserva os ritos originais da linhagem, bem como o dialeto africano ewe-fon, nos cânticos, rezas e no cotidiano da comunidade do Curuzu, no bairro da Liberdade.

Joá Souza / Ag. A TARDE

Cerimônia lotou espaço, que preserva ritos originais da linhagem e o dialeto africano ewe-fon
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